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Educação musical: métodos diversos, objetivos comuns

Por Luciana Bento e Lilian Dias

Cena 1: Estalos, palmas, pés batendo no chão, grunhidos e assovios preenchem o ambiente, numa combinação surpreendente de sons produzidos exclusivamente pelo corpo humano.

Cena 2: Alunos concentrados tocam instrumentos musicais variados, de acordo com seu interesse e familiaridade: sons de violinos, violões, tubas, pianos, flautas e baixos se harmonizam na orquestra formada por crianças e jovens.

Cena 3: Pessoas se movimentam pela sala, marcando o compasso da música em saltos e passos dados para frente, para trás, para os lados – palmas e vozes se sincronizam e acompanham o processo.

Cena 4: Baldes, panelas, cumbucas, colheres de pau, bambus, chocalhos e… instrumentos musicais variados. Uma profusão de elementos inusitados instigam alunos a descobrir sons e despertar a sensibilidade para a música.

Cena 5: Vozes de diferentes timbres conversam entre si e desfilam repertórios diversos: sambas, rocks, forrós, clássicos, populares, sacros…  Solos, naipes e coros animam e surpreendem as plateias.

Parecem situações diferentes, mas todas as cenas narram formas de ensinar música. Métodos diversos, com o mesmo objetivo: levar a música para a sala de aula e despertar o interesse dos alunos pelo aprendizado.

Tantas maneiras de ensinar música – há muitos outros exemplos que podem ser citados – nos levaram a questionar: existe um método ideal para se aprender e ensinar música? A resposta que achamos é um enorme não!

Desde que a lei 11.769 foi aprovada, esta é uma questão que permeia as discussões sobre a implantação do ensino de música nas escolas. A lei não especifica os conteúdos que devem ser utilizados e delega à escola a decisão sobre o que deve ser trabalhado em sala de aula.

Então como decidir sobre o conteúdo a ser ministrado e como será feito?

A melhor maneira de decidir é se informar sobre os diferentes caminhos para se atingir o objetivo final: ensinar música com qualidade e de forma interessante, lúdica.

Com limitações de infraestrutura, muitas escolas não possuem instrumentos musicais para todos os alunos e os métodos que utilizam exclusivamente o corpo humano tem sido uma saída criativa e muito eficiente para o ensino de música.

Um exemplo é O Passo – método de regência com os pés criado pelo músico Lucas Ciavatta em 1996 e adotado em diversas escolas e universidades no Brasil e no exterior. O modelo ajuda a desenhar mentalmente um espaço musical e a localizar o que está sendo ouvido, articulando notação corporal, notação oral e notação gráfica.

“Durante muito tempo achei que coordenação motora, disciplina, raciocínio lógico, criatividade e sensibilidade fossem importantes para se fazer música. De fato o são. Mas bem pouco se comparados à capacidade de ouvir”, explica Ciavatta.

Ele conta que sua grande inspiração foi a cultura popular brasileira. “Quando comecei a me aproximar da música popular todos os meus conhecimentos musicais anteriores foram desafiados e percebi a necessidade de ter ferramentas para trabalhar com ritmos bem mais complexos do que os que vinha trabalhando até então”, lembra.

“Com as ferramentas que eu tinha, até era possível ‘me virar’ como músico mas não como professor, não. Para ensinar o repertório popular era preciso trazer para a sala de aula também os procedimentos didáticos populares – andar para compreender o ritmo, por exemplo. Aprender ritmo sentado foi algo criado na academia e nunca deu muito certo”, avalia.

Lucas conta que criou o método durante as aulas que ministrava para crianças de nove anos. Segundo ele, não houve um momento de “iluminação” e sim muito ensaio, tentativas e erros – numa trajetória viva, que permite com que O Passo continue sendo melhorado diariamente tanto pelo próprio Ciavatta quanto pelos educadores do Instituto d’O Passo.

Embora acredite que não existe um método ideal para se aprender música, Lucas afirma que “um método de educação musical que não considere o corpo é um método do qual você deve fugir.”

Outro educador que aposta em sons produzidos no corpo para ensinar música é Sérgio Ghivelder, criador do método Música Corpórea. Para ele, é essencial conhecer vários métodos e avaliar com qual o educador você se identifica mais. “Eu criei o método a partir de mil referências, educadores, culturas. Minha grande inspiração foi o norte-americano Keith Terry, as coisas não saíram da minha cabeça, do nada”, revela.

“Eu trabalho com percussão corporal com objetivo exclusivo de ensinar música pois considero o corpo uma grande ferramenta didática, que inclui as dimensões visual, sensorial e auditiva. Penso que, ao ensinar o método para professores, alguns podem entender que a Música Corpórea cabe no leque de referência deles e levar para suas salas de aula. É mais uma ferramenta para auxiliar neste processo tão complexo, que é alavancar a educação musical no Brasil”, avalia.

Kodaly, Dalcroze, Orff…

E seja qual for o método utilizado, conhecer os grandes educadores é fundamental. Eles não só se tornaram referência para o ensino da música no mundo inteiro como continuam inspirando professores até hoje.

É o caso do músico húngaro Zóltan Kodály (1882-1967), que originou o método Kodaly – que utiliza o canto como um de seus pilares, trabalhando a leitura e a escrita musical, a percepção e o ritmo com abordagens por meio de jogos, improvisações e atividades lúdicas. Seu método inspirou o maestro Heitor Villa-Lobos na implantação do canto orfeônico no Brasil.

E foi esta abordagem que a professora de musicalização infantil no Instituto Educacional Americana e escritora de livros didáticos musicais, Elaine Prado, escolheu trabalhar em sala de aula.

“As experiências musicais, criatividade e movimentos corporais do método Kodály, tornam a aula lúdica e de fácil compreensão dando base para os estudos futuros, além de favorecer o desenvolvimento integral do aluno”, conta.

Ela explica que quando a música é inserida na rotina, contribui para o desenvolvimento neurológico, afetivo e motor das crianças e adolescentes. “As atividades musicais realizadas na escola não visam a formação de músicos e sim propiciar a abertura de canais sensoriais, facilitar a expressão de emoções, ampliar a cultura geral e contribuir para a formação integral do ser”, diz.

E embora seja vista por muitos como uma técnica contemporânea, o ensino da música relacionado ao movimento corporal foi introduzida pelo austríaco Émile Jaques-Dalcroze (1865-1950).

Dalcroze propôs diversos caminhos com o objetivo de estimular o desenvolvimento global da pessoa, tanto física quanto intelectual e socialmente. Ritmo, solfejo e improvisação fazem parte de suas proposições para o desenvolvimento musical de crianças, jovens e adultos.

Outro educador de referência é o alemão Carl Orff (1895-1982), autor de obras de grande impacto – a mais conhecida delas é a cantata encenada Carmina Burana. Elaborou o método Orff, que combina música e dança, trabalhando com o ritmo da fala e atividades vocais e instrumentais em grupo, com forte enfoque na improvisação e na criação musical. Orff criou um centro de educação musical para crianças e músicos amadores em 1925, local onde trabalhou até a sua morte.

Canto em todo canto

E, com tantas opções, como escolher o melhor método? O ideal é adaptar a formação ao tipo de público e às expectativas de cada um. Assim, mesmo quem acha que “não tem jeito pra coisa”, acaba aprendendo e exercitando suas habilidades e interesses – que variam de pessoa para pessoa.

O músico Felipe Resnik aposta nisso. Professor de música, diretor-assistente do Bloco d’O Passo e diretor musical do Bloco do Sargento Pimenta, ele utiliza o método O Passo em suas aulas pois acredita que ele ajuda a quebrar a ideia equivocada de que é necessário talento para aprender música e é acessível para todos.

“Mas utilizar este modelo nas aulas não significa excluir outras metodologias, ao contrário. O Passo é uma ferramenta central no meu trabalho mas uso também outros métodos. Ele na verdade potencializa a utilização de outras metodologias” afirma Felipe.

E há quem aposte na voz como ferramenta principal de ensino. A formação de corais em escolas municipais do ensino fundamental de São Paulo é o objetivo do projeto Canta São Paulo – iniciativa da Secretaria Municipal de Educação e da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Maria Cecília Carlini, coordenadora do programa, explica que a ideia é tornar a música uma vivência permanente nas escolas da cidade.

“Além de ser uma atividade oral e cognitiva, o canto coral também estimula uma ação política pois ela depende de acordos entre os alunos para acontecer: encontros, horários, compreender o outro, entender a diversidade…”, aponta.

Para ela, a música é um instrumento de promoção da igualdade social, um elemento que amplia o horizonte cultural de meninos e meninas. “A música em grupo deve fazer parte da existência de uma escola que pensa cada aluno como cidadão de direito e como sujeito de sua formação”, completa.

Seja qual for o método(s) ou caminho(s) utilizado(s) – e eles são muitos e para vários gostos, uma coisa é certa: é preciso inserir o ensino musical nas salas de aula do País, com qualidade e dentro da realidade de cada local.

Um desafio que une educadores de Norte a Sul do País!

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